De um lado da Ponte Marechal Hermes, Pirapora. Do outro lado, Buritizeiro. Dizem que o povo de Pirapora não “se bica” com o povo de Buritizeiro, e vice-versa – herança ancestral de tempos em que as margens divididas pelo Rio São Francisco abrigavam tribos indígenas inimigas. Há gente, por exemplo, que só atravessou a ponte uma vez na vida para visitar o outro lado e, mesmo assim, foi num pé e voltou no outro. Eu nunca entendi “birra” herdada, mas respeito o calundu. Quando a gente chega na casa do outro, limpa os pés e respeita os costumes locais, as birras centenárias e tudo mais.

  • Buritizeiro, MG – Da música barranqueira, das carrancas e dos peixes que voam 

Ponte Marechal Hermes, que liga Pirapora a Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

O Rio São Francisco visto de Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

O Rio São Francisco visto de Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

Ponte Marechal Hermes. Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

Ponte Marechal Hermes. Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

Buritizeiro ganhou este nome pela abundância da palmeira buriti naquelas terras. Além do buriti, a cidadezinha (de um pouco menos de 27.000 habitantes) é pontuada de árvores frutíferas, um ou outro milharal, mas parte da sua economia vem mesmo da pesca. Não é difícil flagrar pescadores molhando as canelas no Velho Chico ou as calças numa canoa para pescar e não é à toa que, ao atravessarmos toda a Ponte Marechal Hermes, damos logo de cara com uma rampa para baixar os barquinhos e canoas, que circularão, mais tarde, no rio.

Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

O Rio São Francisco visto de Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

O Rio São Francisco visto de Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

– Os peixes que voam

O Velho Chico, diante de Buritizeiro, é bravo e cheio de corredeiras, bem diferente do Chico calmo e sereno que vi ao longo da expedição do Cinema no Rio São Francisco, a banhar as margens de outras cidades. Dizem que, uma vez a cada ano, os habitantes de Buritizeiro podem ser vistos empoleirados em seus barrancos, numa espécie de transe silencioso, com os olhos fitos na imensidão aquosa do São Francisco. É gente para todo lado! Quando alguém pergunta o motivo de todos estarem parados à beira do rio, a olhar, aparentemente, o nada, um ou outro responde: “É pra ver os peixes voarem!”. Sim, diante de Buritizeiro, até os peixes voam, mesmo sem asas, contrariando todas as lógicas humanas… Mas, só para efeito de atestação, os peixes voam sim, viu?! Quando sobem as corredeiras do Velho Chico, no seu período de desova, buscando um lugar seguro para depositar seus ovos, seus futuros filhotes. Para vencer as corredeiras, os peixes saltam como se voassem, num espetáculo único, que só se repete uma vez a cada ano. Pois então não duvide quando te contarem que de Buritizeiro é possível ver peixe voar!

O Rio São Francisco visto de Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

O Rio São Francisco visto de Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

Colorido. Imagem: Janaína Calaça

Colorido. Imagem: Janaína Calaça

– A música barranqueira

O Rio São Francisco não só alimenta a população de Buritizeiro com seus peixes, como alimenta de mitos também o imaginário desta população. A cidade guarda, em seus limites, representantes da Música Barranqueira, movimento que canta o cotidiano das populações ribeirinhas do Velho Chico, a subir e descer seus barrancos, e os mitos que o cercam, como a história do Caboclo d’água, senhor dos redemoinhos, que pede fumo em troca de peixe ao pescador (razão pela qual vemos muitas embarcações carregarem um rolo de fumo no seu interior para entregar de oferenda à entidade) ou a história do diabinho encontrado no ovo de um galo, que oferece acordos envolvendo riquezas com os humanos em troca de suas almas.

Ruínas. Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

Ruínas. Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

Ruínas. Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

Ruínas. Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

  • Sessão do Cinema no Rio São Francisco em Buritizeiro, MG
Sessão do Cinema no Rio São Francisco em Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

Sessão do Cinema no Rio São Francisco em Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

E, por falar em Música Barranqueira, foi ela quem abriu a noite do Cinema no Rio São Francisco em Buritizeiro. Entre carrancas para espantar o mal, sempre colocadas à frente das embarcações, e o refrão ritmado de “Chiquinho, ó Chiquinho, arruma o peixe que eu tô levando o sal”, a noite na cidade foi de festa. Seguindo a tradição do movimento barranqueiro, que tenta manter vivos os mitos e histórias que circundam o Velho Chico, o grupo fez uma longa apresentação, trazendo para locais e visitantes as principais histórias que povoam o imaginário daqueles que vivem às margens do São Francisco.

Apresentação de música barranqueira em Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

Apresentação de música barranqueira em Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

Carrancas para espantar o mal. Imagem: Janaína Calaça

Carrancas para espantar o mal. Imagem: Janaína Calaça

Apesar da importância da música barranqueira para a manutenção da memória das populações ribeirinhas do Velho Chico, muitos representantes do movimento falam da dificuldade de manter viva esta tradição, tão rica em histórias sobre o rio e sobre quem vive do que o rio dá. Histórias que falam de suas cheias e secas, das entidades que regem suas águas e do pacto entre pescadores e o Velho Chico para que nunca falte peixe em suas mesas. Novamente, em mais uma noite de Cinema no Rio São Francisco, pude perceber o quanto este projeto se amplia em sua importância: não só leva outras manifestações culturais e outras realidades às cidades que visita através do cinema, como tenta mostrar o quanto cada cidade tem a oferecer, resgatando a auto-estima destes locais e lançando um olhar para dentro da própria comunidade. 🙂

Apresentação de música barranqueira em Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

Apresentação de música barranqueira em Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

Apresentação de música barranqueira em Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

Apresentação de música barranqueira em Buritizeiro, MG. Imagem: Janaína Calaça

  • Dicas rápidas para turistar em Buritizeiro, MG

Se você está de passagem por Buritizeiro, deixo duas pequenas dicas rápidas para turistar um “tiquin” pela cidade: escolha um barzinho à beira do Velho Chico para bebericar alguma coisa e apreciar a paisagem (há vários barzinhos por lá às margens do rio – eu e Góia escolhemos o Salto do Peixe) ou procure um guia local para te levar às cachoeiras próximas à cidade – as principais são Cachoeira Grande, Cachoeira do Córrego da Areia, Cachoeira das Andorinhas, Cachoeira do Riacho Doce e Cachoeira do Córrego do Gentil, todas localizadas em fazendas da região.

Barzin à beira do Velho Chico. Imagem: Janaína Calaça

Barzin à beira do Velho Chico. Imagem: Janaína Calaça

Agradecimentos

A Inácio Neves, idealizador do Cinema no Rio São Francisco, pela oportunidade de fazer parte de um projeto como esse e a Juliana Afonso, pela confiança em meu trabalho.

Cantinho da Saudade

Um abraço apertado a todos os meus companheiros queridos de viagem e que me deixaram saudade: Juju (menina serelepe!), Góia (minha querida Góia!), Zinho (o cozinheiro mais bacana de todos os tempos), Vi, Iasmin (Deeeeeeeeeeeeeus!), Tetê, Marcela, Pamilla, Aninha (ser de luz), Fossati (a quem agradeço o papo) e André Teixeira (um dia aprendo a fotografar como vocês!), Débora, Sylvain, Rafinha, Mu, Lu, Paulinho, Matheus, Inácio, Fred, Adilson (que evitou, várias vezes, que eu despencasse dos barrancos) e toda a tripulação e a galera do técnico, que deu um duro danado! Ah, não podia esquecer da Érika, da Pati, do Alan, da Dani, que também estiveram com a gente no comecinho! Saudades docêis tudo!

Cão miúdo. Imagem: Janaína Calaça

Cão miúdo. Imagem: Janaína Calaça

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