Cheguei em Pirapora, Minas Gerais, com a canção Romaria na versão de João Mineiro e Marciano tocando na minha cabeça sem parar (culpa da Clarissa Donda, que cantou esta música por dias pelo Skype como prévia da viagem). “Sou caipira, Pirapora… Nossa… Senhora de Aparecida/ Ilumina a mina escura e funda/ o trem da minha vida/ Sou caipira, Pirapora… Nossa… Senhora de Aparecida/ Ilumina a mina escura e funda/ o trem da minha vida”. Pois bem… Lá estava eu só com o refrão na cabeça em looping, quando vi o Rio São Francisco se abrir gigante diante de mim, naquele fim de tarde azulado. O Velho Chico estava barrento, devido à longa época de chuvas, que traz sedimentos à tona e muda a cor das águas. Mesmo barrento, mesmo sem despontar verde ou azul, é lindo demais vê-lo em sua grandiosidade e força. Lá estava eu diante de um dos rios que mais povoou meu imaginário durante a infância, seja pela lembrança de quando o vi pela primeira vez durante uma viagem a Pernambuco com meus pais, seja pelas aulas de geografia. E Romaria continuava a tocar só na minha cabeça… “Sou caipira, Pirapora… Nossa…!”

  • Pirapora, Minas Gerais

– Benjamim Guimarães: O barco a vapor, construído em 1913, que já navegou pelo Mississipi e hoje vive às margens de Pirapora

Benjamim Guimarães, um dos últimos navios a vapor em funcionamento do mundo. Imagem: Janaína Calaça

Benjamim Guimarães, um dos últimos navios a vapor em funcionamento do mundo. Imagem: Janaína Calaça

Dentre as cidades que visitei durante a expedição do Cinema no Rio São Francisco, Pirapora, sem dúvidas, é uma das maiores e mais desenvolvidas. De suas margens, é possível, inclusive, avistar algumas indústrias ao longe, que giram em torno de ligas de alumínio e de ferro (que mantêm sólida a economia da cidade). Talvez por ser uma das maiores, Pirapora não me arrebatou, exceto pela presença do quase centenário barco a vapor Benjamim Guimarães e a sua instigante Ponte Marechal Hermes, que abrigava uma importante linha férrea (hoje desativada) e que faz a conexão entre a cidade e Buritizeiro.

Benjamim Guimarães, Pirapora, MG. Imagem: Janaína Calaça

Benjamim Guimarães, Pirapora, MG. Imagem: Janaína Calaça

Benjamim Guimarães, um dos últimos barcos a vapor em funcionamento do mundo. Imagem: Janaína Calaça

Benjamim Guimarães, um dos últimos barcos a vapor em funcionamento do mundo. Imagem: Janaína Calaça

Um dos ícones de Pirapora e uma das grandes atrações turísticas da cidade, o Benjamim Guimarães, com seus quase cem anos (a embarcação foi construída em 1913 nos Estados Unidos), é um dos últimos barcos a vapor em funcionamento no mundo (dizem que é o último, inclusive). Com uma longa história de chegadas e partidas, o Benjamim já navegou, inclusive, no Rio Mississipi e na Bacia Amazônica. Desde 1920, no entanto, ele é encontrado às margens da cidade mineira. Com capacidade para receber 140 pessoas, a embarcação hoje funciona essencialmente para o turismo. Suas saídas ocorrem sempre aos domingos, por volta das 9 horas.

– Ponte Marechal Hermes, Pirapora, MG

Ponte Velha, Pirapora, MG. Imagem: Janaína Calaça

Ponte Marechal Hermes, Pirapora, MG. Imagem: Janaína Calaça

Ponte Velha, Pirapora, MG. Imagem: Janaína Calaça

Ponte Velha, Pirapora, MG. Imagem: Janaína Calaça

Caminhando pela orla de Pirapora e de olho no Rio São Francisco, você certamente avistará a Ponte Marechal Hermes, outro importante cartão postal da cidade e que faz a conexão entre Pirapora e Buritizeiro. A linha férrea, que passava pela ponte, hoje encontra-se desativada. Para chegar à outra margem do rio, só a pé, de bicicleta ou de moto (apesar de ter sido proibido o tráfego de motocicletas, para evitar danos na construção pelo excesso de trepidação, ainda assim o fluxo é constante). Depois de atravessar quase 1 km de ponte, você chegará em Buritizeiro (que possui vários barzinhos às margens do Velho Chico para sentar e bebericar alguma coisa).

Ponte Velha, Pirapora, MG. Imagem: Janaína Calaça

Ponte Marechal Hermes, Pirapora, MG. Imagem: Janaína Calaça

Ponte Velha, Pirapora, MG. Imagem: Janaína Calaça

Ponte Marechal Hermes, Pirapora, MG. Imagem: Janaína Calaça

– Orla de Pirapora

Para quem quiser curtir a night de Pirapora, tem mesmo é que ir para a orla da cidade, à beira do rio São Francisco. Na Avenida Salmeron se concentra a maioria dos restaurantes e barzinhos da cidade (fiz grande parte das minhas refeições no restaurante Kaka’s). Lá também você encontrará (geralmente nos fins de semana) uma feirinha, com pratos típicos, artesanato e poderá assistir a apresentações musicais.

Orla de Pirapora, Minas Gerais. Imagem: Janaína Calaça

Orla de Pirapora, Minas Gerais. Imagem: Janaína Calaça

Entre outros atrativos da cidade estão o seu carnaval (que conta, inclusive, com a presença de escolas de samba) e atividades de ecoturismo e turismo de aventura, como rafting, treking e motocross. Para quem quiser tomar banho de cachoeira, é preciso atravessar a ponte, ir até Buritizeiro e procurar por um guia local. Para maiores informações, acesse o site da Prefeitura de Pirapora.

Orla de Pirapora, Minas Gerais. Imagem: Janaína Calaça

Orla de Pirapora, Minas Gerais. Imagem: Janaína Calaça

Feirinha em frente à orla de Pirapora, Minas Gerais. Imagem: Janaína Calaça

Feirinha em frente à orla de Pirapora, Minas Gerais. Imagem: Janaína Calaça

  •  1ª sessão da 7ª edição do Cinema no Rio São Francisco aconteceu em Pirapora, MG

Quando chegamos em Pirapora, no fim do dia 20 de abril, a tela inflável do Cinema no Rio São Francisco já se encontrava armada. Diante da tela, o trailer do projeto com rolos de filmes a postos já se encontrava posicionado. Aos poucos, as pessoas foram chegando e tomando seus lugares. Um dos pontos de destaque do Cinema no Rio é que, cada sessão, é geralmente iniciada com a apresentação de algum grupo local, como uma forma de por em evidência o que é produzido nas próprias cidades, valorizando o que é regional.

Trailer do Cinema no Rio parado em Pirapora, MG. Imagem: Janaína Calaça

Trailer do Cinema no Rio parado em Pirapora, MG. Imagem: Janaína Calaça

Maestro Alex, regendo a banda da cidade de Pirapora, MG. Imagem: Janaína Calaça

Maestro Alex, regendo a orquestra da cidade de Pirapora, MG. Imagem: Janaína Calaça

Neste dia, a sessão, que começou com cheirinho de pipoca, contou com a participação da Orquestra da cidade, composta inteiramente por crianças e adolescentes e regida pelo maestro Alex, uma figura emblemática de Pirapora pelo seu amor incondicional à música. Maestro Alex veio de família pobre e logo cedo teve que trabalhar para ajudar no sustento da família, que não admitia que este estudasse ou aprendesse qualquer outra atividade, que não fosse ligada ao trabalho no campo. Escondido, no entanto, ele aprendeu a arte de mexer com os instrumentos e deles extrair a música que acalenta a alma. Apesar de toda sova que levou pela insistência em estudar, ele não abandonou a sua paixão pela música. Ao contrário. Ela é quem o rege hoje. Com o intuito de dar um futuro melhor às crianças carentes da cidade, seu Alex montou uma orquestra, conseguiu instrumentos e, há oito meses, trabalha com o grupo (o mesmo que abriu a sessão). Afinados e empenhados, crianças e adolescentes de Pirapora transformaram aquela noite de estreia em um momento especial, de muita música, superação e nostalgia.

Maestro Alex. Imagem: Janaína Calaça

Maestro Alex. Imagem: Janaína Calaça

Banda da cidade de Pirapora, composta por crianças e regida pelo maestro Alex. Imagem: Janaína Calaça

Orquestra da cidade de Pirapora, composta por crianças e regida pelo maestro Alex. Imagem: Janaína Calaça

Agradecimentos

A Inácio Neves pela oportunidade de fazer parte de um projeto como esse e a Juliana Afonso, pela confiança em meu trabalho.

Cantinho da Saudade

Um abraço apertado a todos os meus companheiros queridos de viagem e que me deixaram saudade: Juju (menina serelepe!), Góia (minha querida Góia!), Zinho (o cozinheiro mais bacana de todos os tempos), Vi, Iasmin (Deeeeeeeeeeeeeus!), Tetê, Marcela, Pamilla, Aninha (ser de luz), Fossati (a quem agradeço o papo) e André Teixeira (um dia aprendo a fotografar como vocês!), Débora, Sylvain, Rafinha, Mu, Lu, Paulinho, Matheus, Inácio, Fred, Adilson (que evitou, várias vezes, que eu despencasse dos barrancos) e toda a tripulação e a galera do técnico, que deu um duro danado! Ah, não podia esquecer da Érika, da Pati, do Alan, da Dani, que também estiveram com a gente no comecinho! Saudades docêis tudo!

A tenda da pipoca, que faz a alegria das crianças da cidade. Imagem: Janaína Calaça

A tenda da pipoca, que faz a alegria das crianças da cidade. Imagem: Janaína Calaça

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7 Comentários

  1. Parabéns,me fez lembrar quando viajava por aqueles lados,abraços

  2. […] de três dias aportado em Pirapora, Minas Gerais, finalmente o barco do Cinema no Rio São Francisco iria seguir o seu devir, que é […]

  3. […] a vapor do mundo em funcionamento, passava diante de Ponto Chique e seguia seu caminho rumo à Pirapora. Na beira do Rio São Francisco. Imagem: Janaína Calaça Na beira do Rio São Francisco. Imagem: […]

  4. […] – Um importante projeto de resgate da memória das populações ribeirinhas do Velho Chico Pirapora, MG – Entre música e barco a vapor centenário, a primeira parada do Cinema no Rio São … são romao, minas gerais var fglocation = […]

  5. kelle disse:

    eu adoro pirapora nao vejo a hora de i ver meu avo e andar pela aquela ponte


 

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