Neste momento, a equipe do Cinema no Rio São Francisco (projeto idealizado por Inácio Neves) deve estar aportada em Itacarambi, interior de Minas Gerais, em meio ao forte calor do sertão mineiro… Não abandonei o barco antes da expedição acabar por querer. Ao contrário. Voltei a São Paulo com muito pesar. A expedição teve início no dia 20 de abril e só termina dia 5 de maio. Tive, no entanto, que voltar de viagem no dia 30 e hoje me visto de saudade para falar sobre os 10 dias que passei a bordo do Luminar, acompanhando esta linda expedição, que não só leva cinema às populações ribeirinhas do São Francisco, como também desenvolve, desde 2004, um importante trabalho social de resgate da memória das cidades visitadas. Inclusive, eu não fazia ideia do tamanho deste projeto e da beleza desta iniciativa, até passar a acompanhar, silenciosamente, o trabalho da equipe que faz o Cinema no Rio acontecer. Eu não sabia, por exemplo, que em cada edição um(a) antropólogo(a) e jornalistas vasculhavam (nesta edição, Tetê, Ju Afonso e Pamilla Vilas Boas) a cidade à procura de personagens e de histórias, que pudessem ser registradas, catalogadas e, sobretudo, resgatadas e partilhadas posteriormente. Uma das falas recorrentes que ouvi, ao longo destes dias, através das narrativas dos cidadãos mais antigos das cidades, é a de que muitas manifestações culturais destes locais estão desaparecendo, em função da falta de interesse das gerações mais novas e até de investimento do poder público na manutenção desta memória. Logo, quando a equipe do Cinema no Rio aporta em uma cidade, não está somente levando um momento onírico para aquela população, uma licença poética em meio à rotina de trabalho duro… Mas também uma tentativa de manter viva a memória destes lugares, que também fazem parte da constituição de nossa identidade brasileira.
- Cinema no Rio São Francisco – Um importante projeto de resgate da memória das populações ribeirinhas do Velho Chico
Enquanto parte da equipe trabalhava duro para montar a estrutura do cinema (armar a gigantesca tela inflável onde seriam projetados os filmes nacionais – curtas e longas -, arrumar as cadeiras, montar a tenda da pipoca, cuidar dos rolos de filmes), uma outra parte trabalhava duro para mapear personagens que guardam na memória um pouco da história da cidade e as principais manifestações culturais de cada local – batuque, folia, música barranqueira etc. Este trabalho de mapeamento depois era registrado em pequenos documentários sobre a cidade, exibidos antes dos filmes da programação oficial, juntamente também com as fotos tiradas pelas crianças durante a Oficina Lúdica de Fotografia.
Durante a Oficina Lúdica de Fotografia, a equipe formada por Iasmin Marques, Débora Carvalho e Sylvain Cognard partia para a cidade para organizar grupos de crianças que tivessem interesse em participar da oficina. Câmeras fotográficas eram então distribuídas e cada criança tinha o direito de fazer 15 fotos, seguindo o tema proposto: a identificação das crianças com sua cidade, ou seja, cada uma deveria fotografar elementos do seu cotidiano, do seu local. Três das quinze fotos tiradas eram então escolhidas para serem exibidas antes das sessões, causando um alvoroço na criançada.
Tanto os documentários sobre a cidade, quanto as fotografias tiradas pelas crianças, lançam o olhar da população sobre a sua própria identidade, para o seu local, para a sua memória. Através das fotos, através da narrativa dos locais, do registro do batuque, da música barranqueira, das histórias do lugar, a auto-estima destas populações também é resgatada, quando são colocadas na mesma tela onde serão exibidos os filmes que tanto esperam assistir. A importância de um documentário, de um curta, de um longa é a mesma daquelas fotos tiradas pelo olhar particular das crianças ou dos registros dos personagens da cidade. A noite de filme e de pipoca, de novidade na cidade, de gente diferente circulando pelas ruas, é também a noite de ver os rostos conhecidos e de prestar atenção àquilo que faz parte do dia a dia. E não fica por aí…
A riqueza cultural destas cidades é tão grande, que, inclusive, inspirou o cineasta Helvécio Marins (que acompanhou as primeiras edições do projeto) a rodar o longa Girimunho (que conta a história de duas figuras instigantes de São Romão – Dona Maria do Batuque e Dona Bastu). Tive o privilégio e a alegria de assistir ao lançamento da película em plena São Romão, tendo, diante de mim, as duas protagonistas do filme (cuja fotografia, já adianto, é linda e a cena inicial com Dona Maria, entoando seu canto e liderando o batuque, é de arrepiar). Além do filme, registros fotográficos das cidades, dos personagens e do cotidiano por André Fossati e o trabalho de captura de imagens da Aninha e do Rafael Mendonça merecem também ser vistos (assim que tiver o link, passo pra vocês). No mais, guardo minha saudade destes dias calorosos, das imagens que vi, das coisas que vivi e volto mais tarde para mais um dedo de prosa, uma mexida na memória, com o São Francisco, inteiro, correndo dentro de mim.
Agradecimentos
A Inácio Neves pela oportunidade de fazer parte de um projeto como esse e a Juliana Afonso, pela confiança em meu trabalho.
Cantinho da Saudade
Um abraço apertado a todos os meus companheiros queridos de viagem e que me deixaram saudade: Juju (menina serelepe!), Góia (minha querida Góia!), Zinho (o cozinheiro mais bacana de todos os tempos), Vi, Iasmin (Deeeeeeeeeeeeeus!), Tetê, Marcela, Pamilla, Aninha (ser de luz), Fossati (a quem agradeço o papo) e André Teixeira (um dia aprendo a fotografar como vocês!), Débora, Sylvain, Rafinha, Mu, Paulinho, Matheus, Inácio, Fred, Adilson (que evitou, várias vezes, que eu despencasse dos barrancos) e toda a tripulação e a galera do técnico, que deu um duro danado! Ah, não podia esquecer da Érika, da Pati, do Alan, da Dani, que também estiveram com a gente no comecinho! Saudades docêis tudo!
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Neguinha, que post lindo!
Como você disse, antes de tudo, o projeto é capaz de dar voz a essas figuras e manifestações tão importantes! Por isso acredito tanto nele e tenho certeza de que ele deve ser conhecido e reconhecido por todos!
Estamos com saudades de vc e do jegueton!!
Beijos!
Jujuba,
foi um dos pontos que achei mais bacana desta experiência… Ver que o projeto continua, depois de ir embora.
Eu torço para que mais edições aconteçam e que ele continue forte e levando não só um pouco de alegria a estas cidades, como também mantendo viva a memória destes locais através dos registros. 🙂
Foi uma honra participar do Cinema no Rio. 🙂 Obrigada pela oportunidade, Ju!
Beijão,
Jana.
QUE viagem! Aposto que taí uma experiência que jamais, jamais, jamais será esquecida. E as fotos estão lindas! Continua contando, Jana!
Mari, aos poucos vou tentar trazer as experiências que vivi nestes dias. E não foram poucas não. Voltei renovada e feliz de ter participado de algo assim. 🙂 Espero dar conta do tamanho do projeto. 🙂
Um grande beijo,
Jana.
Meu, queria muito ir passar uns dias vendo como é feito, vendo a alegria das pessoas. Que coisa maravilhosa! Vc é um sortuda 😀
Rê, mesmo que eu escreva -entos textos, só estando lá para ver como é. 🙂
Jana,
Ano que vem tem, né? É fácil ir e participar? Se for vou me programar pra ir 🙂
Minha Nêga,
Tamanho é o orgulho que carrego no peito de ter alguém tão especial quanto você ao meu lado! É pra vida minha neguinha.
Raras hoje em dia, são as pessoas capazes de entender que nem tudo é promoção, evento e glamour. Pé no chão, gosto de terra na boca e borrifo de água no rosto são coisas tão simples e tão vitais que hoje em dia se perdem ao meio de tantos egos!
Em ações sociais dessa magnitude, podemos perceber realmente que nem tudo está perdido e que ainda há muito por se fazer!
Lindo o relato, mas nem se compara à todos os fragmentos que solta em nossos papos antes de dormir!
Não estive presente, mas acompanhando seus relatos TODOS, posso dizer que minha melhor metade estava lá!
Zu,
obrigada pelo carinho de sempre, pelo apoio, incentivo e sobretudo por estar ao meu lado para partilhar todas essas vivências. Essa viagem poderia ter sido ainda mais especial se você estivesse ao meu lado, sobretudo para fazer aquilo que de melhor vc faz: fotografar.
Foi uma viagem e uma experiência para voltar de alma leve e assim voltei.
Beijo,
te amo,
Jana.
Ô chatice viu.
Pelo menos as fotos se salvam.
Bjs
Querida Amália, e o Rio de Janeiro? Continua lindo?
GeoLocalização de IP. 🙂 Se vc tem a base certa de procura e os contatos certos dentro da Oi, vc consegue TUDO! 😉
Jana, lindo texto, linda iniciativa, lindas fotos! O projeto me surpreendeu, pelas suas palavras vejo que é bem maior do que eu imaginava. E tenho certeza de que assim também deve ter sido a experiência.
Tipo das coisas lindas que acontece, que muito significa, poucos tem conhecimento e que não tem preço – nem para quem promove, nem para quem recebe!
Tô de olho! Vai contando! 🙂
Bjos
Neguinha,
adorei contar com a sua companhia nessa viagem. Pena que fiquei tão pouco. Mas adorei ler o seu post e saber como foi o resto da aventura.
Beijos
E vem mais por aí, Pedrox! 🙂 Beleza q as minhas fotos n são uma “Brastemp”, mas tá valendo. Hahahahaha
Beijão, meu nêgo!
Jana.
[…] da amiga blogueira Janaína Calaça. Aproveite para ler os posts dela sobre o Cinema no Rio: Cinema no Rio São Francisco – Um importante projeto de resgate da memória das populações ribei… Pirapora, MG – Entre música e barco a vapor centenário, a primeira parada do Cinema no Rio […]
Oi Janaína!
que legal essa experiência! Eu como mineira, amante do Rio São Francisco e suas histórias, fiquei encantada com esse projeto! E com suas fotos!
bacana demais!
Abs
Tássia
http://www.comospesnomundo.com
Tassia Corina »
Oi, Tassia! Tudo bem?
Eu adoro Minas! Acho um dos estados brasileiros mais interessantes e simpáticos de visitar e sempre que posso, dou um jeito de dar um pulinho lá. Qto ao projeto Cinema no Rio, foi um dos projetos mais bacanas q participei até hoje. Vivi momentos muito especiais lá, inclusive de reflexão em relação à minha própria vida. Valeu a pena!
Um grande e forte abraço,
Jana.
A lancha LUMINAR é a mesma que atuou no inicio dos anos 70 com um missionário adventista enfermeiro Scofield?
Me lembro desta Lancha, ficava vários dias ancorada no porto de Januária-MG, fazendo atendimento médico e distribuindo remédios para população carente, o médico era Dr. Charles.