Para Góia e todos os bons amigos que fiz nesta viagem
No dia da primeira partida do barco do Cinema no Rio São Francisco, acordei com a ansiedade típica dos dias de festa da minha infância, quando, pequena, observava atenta minha mãe enrolar os brigadeiros e outros docinhos e enfeitar o ar com cheiro de açúcar… A mesma ansiedade infantil que me fez ir de um lado pro outro do barco, não parar quieta, perturbar a paz de todos, até ouvir o motor da embarcação ser ligado. Apesar de nunca ter navegado o Velho Chico antes, seu nome sempre foi para mim familiar, como aquelas pessoas que vivem no mesmo lugar que a gente e que só cumprimentamos de longe. O São Francisco sempre foi um antigo conhecido, que muito ouvi falar através das histórias de meu pai, das músicas do Gonzagão, das aulas de geografia e que guardei, até então, entre as lembranças turvas de menina, quando o vi se abrir, vestido de azul e verde, durante uma viagem que fiz para Pernambuco com minha família. Prestes a navegar por suas águas, era hora de deixar os acenos de lado e abraçar de vez aquele velho conhecido, que até então só havia cumprimentado à distância.
Depois de três dias aportado em Pirapora, Minas Gerais, finalmente o barco do Cinema no Rio São Francisco iria cumprir seu devir, que é se desamarrar da terra e cruzar as águas, que, neste dia, acordaram silenciosas e pontuadas de correntes, que serpenteavam hipnóticas diante de nossos olhos, a advinhar redemoinhos. Quando o motor foi, finalmente, ligado, durante o café da manhã e em meio às vozes dos que ali estavam, senti que era chegada a hora da partida – da primeira entre muitas que viriam ao longos destes dias e sobretudo ao longo da própria vida.
E o movimento se fez. Com sua carranca para nos dar proteção e com seu rolo de fumo para o Caboclo D´água não nos engolir, o barco saiu para cumprir o seu devir, que é atravessar as águas, sem pressa, mas sempre adiante. Pequenas ondas, aos poucos, ficavam para trás, deixando rastros que logo se apagavam, assim como a margem onde estávamos aportados, os barcos que ali estavam, as pessoas que ficavam, a nos olhar penduradas nos barrancos.
No nosso trajeto, vi outros barcos despontarem, miúdos, em meio àquela imensidão e pescadores a pedir, silenciosamente, ao São Francisco que os peixes nunca lhes faltassem no prato ou que ele, nos dias de suas cheias, não destruísse suas casas. Vi lavadeiras batendo roupas debaixo do sol, pássaros a levantar voo como se partissem de dentro das águas e barrancos imensos pontuados de árvores, que escondiam, atrás de si, o sertão sem fim – o mesmo sertão que povoa o meu imaginário de infância e o mesmo das linhas de Guimarães Rosa. Naquele dia de partida, de festa e de ansiedade, tudo cheirava e reluzia à vida e, para nos receber como um velho conhecido, o São Francisco se alargou em um longo abraço aquoso a nos desejar sorte naquela longa jornada.
Agradecimentos
A Inácio Neves, idealizador do Cinema no Rio São Francisco, pela oportunidade de fazer parte de um projeto como esse e a Juliana Afonso, pela confiança em meu trabalho.
Cantinho da Saudade
Um abraço apertado a todos os meus companheiros queridos de viagem e que me deixaram saudade: Juju (menina serelepe!), Góia (minha querida Góia!), Zinho (o cozinheiro mais bacana de todos os tempos), Vi, Iasmin (Deeeeeeeeeeeeeus!), Tetê, Marcela, Pamilla, Aninha (ser de luz), Fossati (a quem agradeço o papo) e André Teixeira (um dia aprendo a fotografar como vocês!), Débora, Sylvain, Rafinha, Mu, Lu, Paulinho, Matheus, Inácio, Fred, Adilson (que evitou, várias vezes, que eu despencasse dos barrancos) e toda a tripulação e a galera do técnico, que deu um duro danado! Ah, não podia esquecer da Érika, da Pati, do Alan, da Dani, que também estiveram com a gente no comecinho! Saudades docêis tudo!

Jegueton também partiu para dar uma olhada no tamanho do barranco para depois me contar. Imagem: Janaína Calaça
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Jeguiando









































Janinha….
mais um belo post dessa belíssima viagem. Valeu!!!
Depois me manda aquelas fotos minhas no barquinho tirando foto.
Bjs
Te mando as fotos sim, Pedrin! 😀
Que texto lindo e que experiência incrível!
Parabéns, Jana! Você conseguiu nos emocionar mesmo à distância.
Bjos.
Lilian, quando algo povoa por tanto tempo o nosso imaginário, a importância que essa vivência tem para nós para ser ainda maior. 🙂
Um grande abraço,
Jana.
Oi, Jana. Tudo bem?
Seu post foi selecionado para a #Viajosfera, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Beijos,
Bóia Paulista
Obrigada por compartilhar, meus queridos! 😀
Beijão,
Jana.
Muito interessante a descrição da viagem pelo rio São Francisco. Realmente, suas águas são marcantes no Brasil, mesmo para quem não mora no Nordeste. O São Francisco está retratado em livros, em músicas, em poesias e faz parte do imaginário popular. Daí sua importância e a justificativa para este post, não é mesmo? Ótima ideia!
Rafa, o São Francisco não só fez parte do meu imaginário (como ainda faz), como, você mesmo pontuou, faz parte do imaginário popular! 😀 Ele não merece apenas um post, mas também uma viagem para vê-lo de perto. 😀
Um grande e forte abraço,
Jana.
Eu tinha a certeza de que esta não seria uma leitura rápida e finalmente consegui ler com a calma que este post pede. Lindíssimas fotos, lindo projeto e escolheram a pessoa certa para descrevê-lo! Parabéns!
Bjs
@viagempimpolhos
Sut Sut! Que bacana vê-la por aqui e saber que guardou um tempinho para ler este texto. Há passagens na vida da gente que são realmente significativas e esta foi muito para mim.
Um grande e forte abraço,
Jana.
Que legal Janaina!!
Adorei!!
Espero reve la nessas e outras paragens!!
bjao!!
Brigadão, meu nêgo! 😀 E, sempre que puder, dê uma passada por aqui para ler as aventuras e desventuras do Jegue. 😀 Grande abraço, nêgo.
Jana.