Nasci e cresci em Salvador, na Bahia. Sempre disse que nunca a trocaria por terra alguma, não por bairrismo, mas, sobretudo, pelo amor que tenho por ela. E amor… Amor não é descartável, não passa. Ao contrário, ele se preserva e se propaga, seja enquanto estamos vivos, seja quando já não estamos por aqui. A memória de um amor é sempre presente. Hoje, vivo em São Paulo. Por amor, também escolhi ficar aqui, longe de minha terra-mãe, das minhas ruas conhecidas, do meu entardecer azul e fresco, do calor de suas manhãs e da brisa de suas noites.
Em Salvador, dei meus primeiros passos e tropeços, conheci o poder silencioso do mar e do respeito que tenho que ter por ele. Lá, experimentei sabores, descobri o quanto gosto de azeite de dendê e de como tudo que é colorido me fascina. Gosto do seu caos, da desordem de suas ruas e do amontoado de suas casas.
Sempre enxerguei vida nesta desordem e sempre vivi bem no meio dela, fato a que muitos torcem o nariz. Para amar Salvador, é preciso entender a beleza da sua desordem, de suas casas construídas ao redor de ladeiras e da forma como seu povo interage entre si e com aqueles que os visitam.
Em minha terra solar, a mistura é o que nos rege. A mistura das etnias, das manifestações religiosas e a mistura de uma cidade, que é tantas, sendo uma só. Nela aprendi que, em dia de Cosme e Damião ou em dia de Santa Bárbara, é difícil enxergar o limite entre as crenças. O Candomblé, com sua linda mitologia, divide a mesma mesa com o Catolicismo e a cidade toda se entrega a este banquete sincrético que é o Caruru. Seja para Santa Bárbara ou para Iansã, seja para os dois irmãos gêmeos ou para os três, o certo é que todos se reúnem, fazem suas oferendas e saboreiam um prato colorido por vatapá, caruru, xinxim, cana, feijão fradinho, farofa de dendê, pipoca, banana frita, rapadura, acarajé, abará e entre tantos outros itens.
Quando volto a Salvador, sou a filha que mora longe, que precisa rever todos os cômodos da casa para, novamente, se habituar. Faço questão de ver o meu lindo Rio Vermelho, onde fica a morada de Iemanjá, de tomar sorvete na Ribeira e depois ver o sol se por em Monte Serrat. Meus pés sempre pedem pelas areias brancas do Abaeté, pela tarde calma no Solar do Unhão, onde revisito um casarão antigo e sento em uma pequena ponte de madeira para ver o mar.
Gosto de caminhar pelo Pelourinho, rever suas igrejas e nem reclamo quando tropeço nos paralelepípedos de suas ruas. No Mercado Modelo, busco algo para enfeitar o corpo ou as paredes nuas de minha casa. Daí, ainda tomo um sorvete na Cubana, sentada em um banquinho, vendo o reflexo da Baía de Todos os Santos nos vidros do lado esquerdo do Elevador Lacerda.
Ah, minha linda Salvador, mãe de braços suficientemente longos para acolher seus filhos e aqueles que buscam seu colo, que a todos envolvem com seu calor e com o afago de sua brisa. Em seu dia, não lamento não estar espalhada em seu ventre, pois sei que sempre voltarei a ela e ela sempre me acolherá. Porque os amores… Eles não passam. Ficam quietos, reservados, latentes e regem nossas vidas, fazem parte do nosso dia a dia. Meu amor por você está no meu sotaque, na forma como espalho ao meu redor símbolos que te representam e de como faço este amor se propagar entre aqueles que a querem descobrir. Feliz aniversário, Salvador, meu caos amoroso, minha soterópolis. 🙂
Jana.
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Nooooossa!!! lágrimas de emoção nos meus olhos!!! belo texto!!! Um texto de amor por nossa cidade mãe!!!!!!
abraços!!!!