Há pouco tempo, quando Erik e eu fomos apresentar uma palestra sobre Bonito (Mato Grosso do Sul) no 8º Encontro de Viajantes, tive a oportunidade de ouvir uma fala muito interessante de um grande viajante, o Luis Filipe Gaspar, sobre a sua vivência em conhecer o mundo. Luis Filipe nasceu em Lisboa, em 1958, e, aos 16 anos, resolveu fazer as contas e ver quantas oportunidades teria, ao longo da vida, para fazer as malas e partir em busca de novas paragens. Segundo o viajante, ele contabilizou quantas férias teria para desfrutar, subtraindo as que fossem tomadas por acontecimentos familiares, sejam eles festejos ou momentos difíceis (casamentos, nascimentos, batismos, mortes etc.), a outros acontecimentos que, porventura, viessem a dar as caras justamente nestes períodos. Ele então descobriu, aos 16 anos, que naquela levada teria umas 35 férias disponíveis para conhecer o mundo inteiro, o que só lhe trouxe a percepção que estava deveras atrasado!
Com mais de 132 países visitados, Luis está entre as 50 pessoas mais viajadas do mundo e continua com o pé na estrada, nos dando uma lição grandiosa sobre como a experiência de conhecer novos destinos, pessoas e culturas nos ensina a viver. Ainda sobre as poucas palavras ditas, diante da tamanha experiência desse viajante, outro ponto em sua fala me chamou bastante a atenção: de como é difícil equilibrar a complicada equação de em um momento da vida não termos dinheiro, mas termos tempo e disposição para viajar e, em outra fase, termos dinheiro, mas não termos tempo, saúde ou disposição para tal empreitada. São poucas as pessoas que conseguem equilibrar esta equação e ele se esforça para manter este equilíbrio.
Quis falar um pouco da história do Luis Filipe, porque compartilho com ele a mesma inquietação. Sei que uma vida não é suficiente para percorrer cada canto do mundo. “Mundo, mundo, vasto mundo… Se meu nome fosse Raimundo seria uma rima, não uma solução…”. Há tantas terras ainda a conhecer, tantas paisagens para por os olhos, tantos sabores a experimentar, tanto a aprender. Eu vejo as pessoas se matarem de trabalhar para ter o melhor carro, a casa mais luxuosa, as roupas mais caras, os eletro-eletrônicos mais modernos, tudo que causa angústia àqueles que não aceitam estar fora de moda, fora de tom, longe das tendências. Tudo que você compra hoje, amanhã já está obsoleto e você é tomado do grande mal estar contemporâneo: o de não conseguir acompanhar todas as mudanças na velocidade em que elas acontecem.
Minha inquietação é tamanha. Daquelas insistentes, que me acompanham e dão mobilidade à vida. Apesar de ter a necessidade de criar raízes, de sentir o aconchego do familiar, minha inquietação me faz sempre querer por o pé na estrada. Não estou à busca de algo. A busca é em si o que procuro. Nada mais. Quero poder sempre fazer planos, ter a perspectiva e a expectativa de conhecer um lugar novo ou revisitar um lugar antigo, que sempre é novo, porque nunca permanecemos os mesmos. Não lembro quem me perguntou sobre o que viajar significava para mim, mas a pergunta nunca me abandonou, como um mote embutido em todas as vezes em que faço as malas. Viajar para mim não pode ser aprisionado em um significado apenas, mas visto e compreendido em sua multiplicidade. Viajando me sinto livre, deixo para trás as paredes conhecidas, os velhos hábitos, a inflexibilidade que o cotidiano às vezes nos exige. Viajando eu aprendo, eu traço linhas, faço conexões com minha história e alinhavo minhas memórias antigas com as novas, que logo serão antigas também. Ao viajar, sinto novos cheiros, experimento novas sensações, conheço pessoas, que, assim como eu, também possuem suas histórias. Viajar é uma experiência única e intransferível. Você sabe o significado de cada viagem que fez, o que cada coisa vivida representou e ninguém poderá tirar isso de você. A memória colhida em suas andanças nunca envelhece. Quem envelhece é o corpo, a mente, não as memórias.
Tendo em vista que o tempo corre e não caminha devagar, vou fazendo meus planos. Trabalho para isso, esforço-me para isso. Pela minha sobrevivência e principalmente pela sobrevivência dessa minha inquietação positiva, que dá movimento à minha vida. Aos que gostam de por o pé na estrada, deixo um convite para reflexão – o que viajar significa para você? – e uma sugestão que colhi da sábia fala do Luis – procure encontrar o equilíbrio necessário para não desperdiçar tempo e vida. Porque, assim como o Luis, pelas minhas contas, já estou deveras atrasada para conhecer o mundo! E você?
Saiba mais sobre as viagens de Luis Filipe Gaspar.
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Janaína que texto bonito! Também compartilho desta inquietação de viajar e espero encontrar o meu equilíbrio para continuar sempre conhecendo novos lugares, pessoas e experiências!
Beijos