Muito comum na Europa, sobretudo em Portugal, o turismo de habitação surgiu como um desdobramento do turismo rural e de mãos dadas também com o turismo histórico. Na Europa, hospedar-se em quintas, casarões, palacetes e até em castelos tornou-se não só um grande atrativo para viajantes, mas, principalmente, uma forma de fazer com que essas grandes propriedades (geralmente encontradas no campo e muitas delas de grande valor histórico) mantenham-se vivas e funcionando, evitando sua decadência e desaparecimento. Na mesma linha, o Brasil tem experimentado também esse “braço” do turismo, que privilegia a vivência e o mergulho no cotidiano de uma propriedade que resguarda em suas paragens vestígios da história e da identidade do país. A exemplo disso, fazendas centenárias abrem suas portas para receber viajantes interessados em, literalmente, viver alguns dias a rotina de um museu “vivo”.
- Fazenda Vista Alegre – Turismo histórico e turismo de habitação no interior do Rio de Janeiro
No início do século XIX, com a decadência do cultivo da cana de açúcar no Brasil, o café passou, aos poucos, a ocupar o espaço e os campos brasileiros, tornando-se, por longos anos, um dos principais produtos comercializados pelo país e de grande importância para a economia da nação brasileira. Com o enriquecimento dos produtores de café, cada vez mais propriedades espalhadas pelo Rio de Janeiro e São Paulo passaram a se dedicar inteiramente à atividade, tornando os dois estados o eixo principal da produção da mercadoria. Surgiram assim as grandes fazendas de café.
O café, no entanto, depois de anos em auge, experimentou tempos depois seu declínio e centenas dessas fazendas, antes prósperas e dedicadas ao seu plantio, tiveram que se reinventar para se manterem “de pé”. Outras, no entanto, desapareceram e destas só restaram ruínas. Uma das fazendas, no entanto, que conseguiram se reinventar e manter-se viva e operante foi a Fazenda Vista Alegre, localizada no munícipio de Valença, no interior do Rio de Janeiro, próxima à cidadezinha de Conservatória – a cidade da seresta. Vista Alegre iniciou seu legado na segunda metade do século XIX, sob os cuidados do Visconde de Pimentel, um imigrante açoriano que recebeu uma concessão para abrir uma sesmaria. Inicialmente dedicada ao plantio do “ouro negro” (o café), a fazenda aos poucos foi mudando seu foco, deixando de concentrar seus esforços no produto, para tornar-se conhecida pelo seu valor humanístico, “com atuações pioneiras no campo das artes e da cultura”, segundo Delio Mattos, proprietário da fazenda e membro da família Mattos, que mantém a propriedade sob seus cuidados há quase quarenta anos.
Ainda segundo Delio Mattos, há registros de periódicos da época que sinalizam para a intensa atividade cultural e pioneira da Fazenda Vista Alegre no que diz respeito à educação e à cultura. Contrariando a “coisificação” dos escravos, o Visconde de Pimentel, de motivações abolicionistas, implantou na fazenda a primeira escola de educação de escravos e agregados, alfabetizando a população que habitava a fazenda e a colocando em contato com a música, criando inclusive a sua própria banda, que se apresentava em Valença. Com o declínio do café e com a morte de Pimentel, no entanto, a fazenda passou tempos desabitada, passando por mãos de arrendatários até que, nos anos de 1980, a propriedade é adquirida pela família Mattos, que a tem mantido desde então, visando dar continuidade ao caráter humanístico de Vista Alegre – um local onde a história, a cultura e a identidade de uma nação sejam resgatados e mantidos. Segundo Delio Mattos, o objetivo é que a fazenda mantenha-se viva para ajudar a reconstruir a memória do Brasil através da cultura e da imersão no passado.
- Turismo de habitação: imersão no cotidiano de uma fazenda histórica “viva”
Em seu site, um aviso: “não somos um hotel-fazenda. A Vista Alegre é uma propriedade histórica que oferece a hospitalidade para casais, familias e grupos de empresa”. Apesar de fortemente praticado na Europa, o turismo de habitação no Brasil ainda é novidade para muitos viajantes, por isso o aviso é tão necessário. No turismo de habitação, o hóspede não tem um serviço de hotelaria à disposição. Não. Literalmente, o hóspede passa a vivenciar a rotina de uma casa. Em nossa visita à fazenda, jantamos, tomamos café e almoçamos com os donos da casa, que mantêm suas rotinas normalmente. Nesta experiência, o hóspede partilha da mesa e da companhia dos que vivem naquele espaço – espaço este que possui uma dinâmica própria e que deve ser compreendida e respeitada. Seu Délio não deixa de montar seus cavalos, nem de acompanhar as atividades da fazenda e dona Vera de cuidar do seu jardim. O casal recebe seus hóspedes de forma atenciosa e os integra à rotina do local.
Além de integrados à rotina do local, os hóspedes do turismo de habitação vivenciam a experiência de passarem dias em um local histórico, com elementos verdadeiramente de época espalhados aos quatro cantos da casa e da propriedade em si. Ao contrário dos hotéis-fazenda, geralmente modernizados, as fazendas históricas investem na preservação de suas características, objetos e mobiliário originais. Quadros da família Mattos, objetos datados do século XIX, mobiliários e pratarias centenárias são alguns destes elementos que justificam o título de “museu vivo”.
Os quartos, onde os viajantes se hospedam no turismo de habitação, são quartos da própria casa, com mobiliário também de época e que resguardam a história da família em suas paredes. Em nosso quarto, por exemplo, um antigo relicário, que provavelmente foi passado de gerações, adornava o ambiente. A proposta é de, literalmente, envolver o visitante com a história da casa e de seus antepassados. Ao contrário de hotéis e pousadas, geralmente idealizados para significar passagem e transitoriedade, o turismo de habitação faz o hóspede mergulhar na história do local e fazer parte dela também.
- Atividades oferecidas pela Fazenda Vista Alegre
Um dos grandes desafios dos mantenedores de fazendas históricas, segundo Délio Mattos, é encontrar uma finalidade econômica para essas grandes e tão importantes propriedades e que ajude, inclusive, a mantê-las funcionando e “vivas”. A família Mattos, ao longo de quase quarenta anos à frente da Fazenda Vista Alegre, já se dedicou à produção de laticínios e hoje dedica-se à criação de gado. A abertura da fazenda à visitação e ao turismo de habitação foi uma forma de criar uma atividade econômica para Vista Alegre que ajudasse em sua sustentabilidade e que, ao mesmo tempo, contribuísse para um projeto cultural de reconstrução da memória do Brasil cafeeiro e de seus desdobramentos no momento atual.
Dentre as atividades oferecidas pela Fazenda Vista Alegre, estão:
- Visitação simples (tour guiado pelo proprietário Delio Mattos de 1 hora pelo casarão colonial): R$ 40,00 (valor sujeito a alterações);
- Visitação com lanche: R$ 70,00;
- Visitação com almoço: R$ 100,00;
- Turismo de habitação: R$ 140,00 por pessoa com café da manhã.
Na fazenda também são realizados eventos sociais (como casamentos e bodas), eventos culturais e corporativos e a propriedade também oferece a opção de locação para filmagens, gravações e ensaios fotográficos.
Curiosidades sobre a Fazenda Vista Alegre
Você sabia que a Fazenda Vista Alegre já foi locação de algumas novelas, filmes e minisséries? Dentre as produções mais famosas, estão a novela A Viagem (as aparições do personagem de Guilherme Fontes – o Alexandre – aconteciam embaixo de uma das árvores da propriedade), localizada ao lado do casarão, e a novela Salomé. Xuxa também já teve um de seus clipes gravados na fazenda e causou um verdadeiro alvoroço na cidade de Valença e cercanias, quando foi gravar o seu especial de 10 anos na Globo.
Se gostou da proposta da Fazenda Vista Alegre, não deixe de visitá-la ou de reservar um fim de semana de turismo de habitação na propriedade. Seguem algumas informações:
– Localização: Vale do Paraíba, Estrada Valença/ Conservatória, número 2.800- Km 18- Rio de Janeiro- RJ
– Reservas: Todas as reservas e demais informações podem ser feitas através do e-mail: renattamattos21@gmail.com (Renata Mattos) ou pelos telefones:
(21) 9977 6604 – Rio (Delio)
(21) 8776 0747 – Rio (Vera)
(24) 9942 1224 – Valença (Renata ou Ricardo)
– Site: Fazenda Vista Alegre
(*) O Jeguiando foi convidado a conhecer a Fazenda Vista Alegre e agradece a hospitalidade de Vera, Délio, Renata e Antônio – que fez a melhor caipirinha que provei “ever” e a companhia atenciosa e sábia de Frederico (a quem não posso esquecer do mimo de me trazer um quindim de presente!).
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Ao casal do jeguiando.com, que passou com a gente um fim de semana adorável, queria agradecê-los e parabenizá-los pela linda matéria!
Esperamos vocês em breve!
Beijos,
Vera
Verinha, quando quiserem nos receber novamente, estaremos à disposição com certeza!
Obrigada por toda a atenção e companhia e por compartilhar um pouco da história da Vista Alegre conosco!
Um grande e forte abraço baiano,
Jana.
Feliz em ver essa publicação sobre a bela, histórica e bem cuidada Fazenda Vista Alegre.
Abraço a todos.
Murillo
21-9589-6969, VIVO.
Muito bom o post! Esse lugar é incrível, parabéns pelo post Janaína.
[…] http://jeguiando.com/2013/03/26/fazenda-vista-alegre-turismo-habitacao-rio-de-janeiro/ […]
[…] O mais legal é que é possível se hospedar na fazenda, bem no estilo guest house. Fazendo uma busca achei o casal de blogueiros do Jeguiando que foi e contou a experiência deles aqui. […]
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