Uma forma alternativa, divertida e especialmente livre de conhecer Halifax, em Nova Scotia
Uma das perguntas talvez mais difíceis de responder, quando pensamos em viagens, é: qual a melhor forma de conhecer uma cidade? Sempre acreditei, pessoalmente, que viajar é uma experiência muito particular e intransferível. Não há fórmulas prontas de sucesso. Há apenas a vontade de estar em um lugar diferente, de conhecer novas realidades, de provar novos sabores, de ter contato com outras culturas e, sobretudo, de colher histórias para a vida.
Particularmente, não sou uma pessoa de excursões. Gosto da sensação de liberdade, de fazer minhas pequenas descobertas, de “quebrar a cara” também, afinal tudo isso vira história depois. Mas, como disse anteriormente, há quem prefira conhecer uma cidade com um guia e dentro de um ônibus e não há nada (nada mesmo!) que torne essa escolha mais ou menos significativa que a minha. É uma escolha e cada um deve seguir aquilo que acredita ser o melhor para si. =)
Porém, voltando à minha necessidade profunda de liberdade – sim, sou uma pessoa que prima pela liberdade –, não sou definitivamente uma viajante cuja primeira opção seja um city tour em um ônibus com grupos fechados. Se eu puder conhecer uma cidade através do transporte público, alugando um carro ou de um jeito alternativo, sempre vou preferir essas opções. No entanto, mesmo já tendo conhecido algumas cidades de várias formas, nunca, até então, havia feito um passeio de sidecar – aquelas motos que possuem uma espécie de carrinho anexo (um barato, diga-se de passagem!).
Pois bem. Como sabem, acabamos de dar início ao projeto Jeguiando across Canada, cuja pauta principal é atravessar o Canadá de costa a costa através dos trens da VIA Rail. Durante essa longa viagem, que durará cerca de 32 dias, faremos paradas em dez destinos canadenses para explorar o que cada uma dessas cidades tem de interessante a oferecer aos viajantes brasileiros. Em cada parada, parte do roteiro é inteiramente desenhado por nós e a outra parte envolve sugestões do destino que nos recebe e que podemos acatar ou não. Uma delas (e que figurou como uma surpresa) foi exatamente o tour de sidecar, operado pelo casal Keven e Vicki. A Bluenose Sidecar Tours é a única empresa que oferece este tipo de passeio na cidade e é fruto do sonho deste simpático casal, que resolveu viver de uma forma mais livre e envolvendo também sua profunda paixão por motos.
- A dinâmica de conhecer uma cidade a bordo de um sidecar
Pontualmente no horário combinado, Keven e Vicki estacionaram suas motos e sidecars em frente ao nosso hotel, o Delta Barrington, localizado em uma das principais avenidas de Halifax – a Barrington Street. Depois de assinarmos um termo de responsabilidade, recebemos os capacetes e um aparelho de Bluetooth, que permitiria nossa comunicação durante todo o trajeto. Vestimos os casacos, entramos nos sidecars (eu viajei ao lado de Vicki e Erik ao lado de Keven) e partimos para uma viagem curta de mais ou menos uma hora até Peggy’s Cove – o ponto alto do passeio e um dos lugares mais bonitos que tive a oportunidade de conhecer em Halifax.
Durante o trajeto, Vicki não só trazia informações turísticas sobre Halifax, como também uma série de curiosidades e dados históricos sobre o destino, que nos fazem entender melhor a dinâmica da cidade, como, por exemplo, a grande explosão de 1917, que dizimou um grande número de cidadãos haligonians, como também a relação entre o grande naufrágio do Titanic e a capital da Nova Scotia. Grande parte dos corpos das vítimas do Titanic foi identificada por legistas de Halifax e enterrada em seu território, criando, desta forma, uma relação profunda entre o acontecimento e a cidade – vários documentos e peças resgatados do navio encontram-se espalhados pelo destino e o museu que mais abriga documentos sobre o acontecimento é o Maritime Museum of the Atlantic, localizado no Waterfront.
Bom, mas não só de curiosidades e informações turísticas e históricas o tour de sidecar é feito. O mais importante, sem dúvidas, é a experiência em si. Nessa terceira passagem pelo Canadá, uma das impressões que tenho e que reafirmo é de que as maiores riquezas do país estão concentradas no seu povo, sempre amigável e acolhedor; em suas belíssimas paisagens cênicas – algumas das mais belas que tive a oportunidade de presenciar em minha vida até então –; e na qualidade de vida e segurança que o Canadá oferece. O mais interessante no tour de sidecar é que o viajante consegue, de alguma forma, ter contato com esta tríade.
As belezas cênicas são vistas a olho nu e envoltas por uma experiência verdadeiramente sensorial. Sem a barreira dos vidros, comuns aos ônibus turísticos, o viajante fica exposto à cidade; às suas cores; à sensação do vento no rosto; aos aromas das árvores e da lenha que emana das casas; ao aceno das crianças nos ônibus escolares; ao sol e à alma outdoor de Halifax. Simplesmente, uma experiência singular e que envolve uma vivência profunda do destino.
Além da experiência sensorial em si, o roteiro elaborado por Vicki e Keven envolve vivências muito interessantes para quem está visitando o destino pela primeira vez, como uma parada na Acadian Maple, uma lojinha dedicada a produtos canadenses e especializada na produção de Maple Syrup; uma parada na Galeria de Ivan Fraser, um artista, escritor e contador de histórias extremamente acolhedor e que, em minha opinião, desenvolve um importante e lindo trabalho de preservação da memória de seu local, mantendo viva a lenda da menina Peggy, que dá nome a um dos principais (e mais belos) atrativos da região – Peggy’s Cove –; uma parada na própria Peggy’s Cove, um dos lugares mais bonitos e intrigantes de Halifax; além de uma parada no SS Atlantic Heritage Site, no Heritage Park, um memorial dedicado ao naufrágio do SS Atlantic. Além da beleza das paisagens, marcada por vários lagos azulados e esverdeados e árvores multicolores (estamos no Outono no momento), o viajante ainda tem contato com os locais e com a história de Halifax de uma forma muito próxima e pessoal.
- Itinerário da Bluenose Sidecar Tours
>> Acadian Maple:
Um dos pontos mais notáveis sobre o Canadá é o grande orgulho que seu povo tem de sua identidade, de sua terra e do que consegue produzir nela. Durante todo o trajeto, vimos, na frente de várias casinhas, bandeiras canadenses hasteadas, demonstrando o profundo orgulho do seu povo por ter nascido nessa terra. Além do forte conceito de nacionalidade, o Canadense valoriza muito o trabalho dos produtores locais e, consequentemente, de seus produtos. A Acadian Maple segue este conceito. Antes mesmo de adentrar a lojinha, o visitante já consegue ver, através dos vidros, várias bandeirinhas espalhadas e produtos nacionais, principalmente a base de Maple Syrup, um dos maiores orgulhos canadenses.
Lá, além de poder presenciar o envasamento do Maple Syrup e degustar alguns itens a base do xarope, o visitante ainda encontra outros produtos como o vinho de Maple – que assemelha-se a um vinho licoroso ou Ice Wine – , biscoitinhos de Maple, geleias, doces em geral, além de souvenirs canadenses, de Halifax e da Nova Scotia. É um boa opção para quem gosta de fazer compras ou que esteja procurando algo interessante para presentear um amigo ou familiar.
- Outras informações:
– Endereço: 13578 Peggys Cove Rd, Upper Tantallon, NS B3Z 2J2. Nova Scotia, Canada.
– Tel.: (902) 826-2312.
– Site oficial: http://www.acadianmaple.com/
>> Galeria de Ivan Fraser:
Quando Vicki disse que uma visita à galeria de Ivan Fraser era tão ou mais importante do que a visita a Peggy’s Cove em si, fiquei curiosa em conhecer este lendário contador de histórias. Fraser é um artista e escritor local, cuja vida tem sido dedicada ao resgate da memória de Peggy’s Cove, um dos ícones de Halifax, com seu farol solitário, suas grandes rochas e ondas bravas. Ao que parece, Peggy foi uma garotinha que sobreviveu a um naufrágio – dentre muitos que já aconteceram na região, devido à grande quantidade de rochas de muitas de suas praias –, tendo sido resgatada por uma família, que vivia nas cercanias do farol. Como a menina não lembrava de seu nome, ganhou o nome de Peggy e passou a fazer parte do seio dessa família e das histórias da região.
E onde Ivan entra nessa história? O escritor e artista sempre foi fascinado pela lenda que envolvia a menina, o farol e a grande pedra onde ela foi encontrada após o naufrágio. Como há pouquíssimos registros históricos sobre o fato – há quem diga que Peggy existiu; há quem diga que trata-se apenas de uma lenda –, Fraser resolveu preencher as lacunas da história com o seu olhar sobre o ocorrido e alinhavou a história de Peggy à de sua própria família. Em seus livros, todos dedicados à personagem, a menina era contemporânea de sua bisavó e com ela brincou durante muito tempo. Entre uma publicação voltada ao público infantil e outros livros mais complexos e romanceados, o escritor e pintor transformou Peggy em um pequeno farol que norteou grande parte de sua produção, seja ela artística – quadros e fotos –, como literária.
Acolhedor e de riso sincero, Fraser transformou a antiga casa de sua família em um verdadeiro museu e espaço dedicado a essa lenda emblemática de Halifax. Nos cômodos da casa, cuja fachada ostenta uma imagem de Peggy’s Cove, o escritor foi preenchendo as lacunas da história com objetos resgatados da sua família e do seu passado para compor a memória da menina sobrevivente. É, sem dúvidas, uma das paradas mais especiais do passeio – pelo menos foi para mim, principalmente por ter tido a oportunidade de conhecer um ser humano tão especial como Fraser.
Lúdica, a Galeria de Ivan Fraser é uma parada especial para quem aprecia boas histórias, literatura, arte e momentos de descontração e é ideal tanto para adultos, como também para adultos.
- Outras informações:
– Localização: 10236 Peggy’s Cove Road | Glen Margaret, Nova Scotia B3Z 3J1, Canada.
– Tel.: 902-823-2083
– Site oficial: http://
>> Peggy’s Cove:
Tão fascinante quanto a história que a envolve, Peggy’s Cove é um daqueles lugares em que você mergulha em um profundo estado de contemplação para captar verdadeiramente sua beleza. Entre pedras gigantescas, seu emblemático farol se estende diante do mar, para iluminar as águas e guiar os navios. O mar, uma presença poderosa na paisagem, é traiçoeiro. Apesar da calmaria que presenciamos, as placas sinalizam que, quando revolto, suas ondas avançam sobre as pedras, já antecipando que ali é um local de respeito às forças da natureza.
Peggy’s Cove também se refere à comunidade rural que encontra-se estabelecida próxima ao farol. Vivendo basicamente de pesca e da criação de gado, a comunidade, aos poucos, foi encontrando no turismo uma forma de gerar renda de uma forma alternativa. Fundada em 1811, a vila de pescadores mantém o ritmo desacelerado de outros tempos e um profundo bucolismo, que tem chamado a atenção não só de turistas, como também de uma série de artistas e fotógrafos, que rumam ao destino em busca de inspiração para suas obras.
>> SS Atlantic Heritage Site
Após nossa visita a Peggy’s Cove, Vicki e Keven nos conduziram à nossa última parada antes de retornarmos a Halifax: ao SS Atlantic Heritage Site, localizado no Heritage Park. Dedicado à memória e à história do naufrágio do navio de luxo SS Atlantic, da companhia da White Star Line – a mesma companhia do Titanic –, o memorial reúne uma série de objetos encontrados na região do naufrágio; documentos históricos; recortes de jornais sobre o acidente; relação das vítimas e outras informações sobre o navio, cujos destroços repousam nas águas da Nova Scotia.
Tendo ocorrido em 1 de abril de 1873, o naufrágio do SS Atlantic foi considerado um dos maiores antes do desastre que ocorreu, décadas depois, ao Titanic. Um dos pontos que mais chamam a atenção e causam espanto até os dias atuais é que praticamente todas as mulheres solteiras a bordo do navio morreram no acidente. Segundo jornais da época, o navio teria mudado sua rota rumo a Boston para abastecer-se de carvão na Nova Scotia. Sem conhecerem bem a região e as praias do destino, pontuadas por enorme rochedos, a tripulação foi pega de surpresa ao se depararem com grandiosos rochedos. Na tentativa de não se chocarem aos mesmos, tentaram desviar de alguns, mas acabaram por atingir a traseira da embarcação, na ala onde se encontravam as mulheres solteiras – o navio encontrava-se dividido em três porções: uma ala ocupada por homens solteiros; a ala do meio por casais; e, por fim, a ala das mulheres solteiras, localizada na traseira do navio de luxo. De 952 pessoas a bordo, apenas 390 foram salvas.
Além de dedicado à memória das vítimas do SS Atlantic, o local ainda abriga uma lojinha de artefatos produzidos pelos habitantes que vivem próximo ao Parque e um café simples, porém extremamente acolhedor. A senhorinha que cuida do memorial preserva com todo carinho o espaço e não se cansa de contar as histórias que envolvem o destino trágico de um dos grandes navios da White Star Line.
- Outras informações
– Localização: 180 Sandy Cove Road, Terence Bay, Nova Scotia, B3T-1Y5.
– Tel.: 902-852-1557
– Fax. 902-852-1280
– Email: ssatlantic@ns.sympatico.ca
– Site oficial: http://www.ssatlantic.com/
- Como contratar a Bluenose Sidecar Tours
Se você é um viajante que, assim como nós, busca opções alternativas e interessantes para conhecer uma cidade, recomendo (muito) o tour de sidecar oferecido pela Bluenose Sidecar Tours. Vicki e Keven, o casal que administra a empresa e que promove os passeios, oferecem opções variadas para quem quer conhecer um pouco mais de Halifax e da região de St. Margaret’s Bay. Entre as opções de tours oferecidos, estão:
– The Halifax City tour (com duração de duas horas), ao custo de $ 74,00 por pessoa;
– The Scenic Fishing Village of Peggy’s Cove (com duração de 3 a 4 horas), ao custo de $ 119,00 por pessoa;
– The South Shore and Lunenburg (o dia inteiro), ao custo de $ 189,00;
– E, por fim, a Bluenose Sidecar Tours também elabora roteiros de acordo com o desejo do cliente e atende também eventos diversos.
Para efetuar as reservas, seja dos tours de roteiro determinado, seja dos tours personalizados, basta entrar em contato pelo telefone (902) 579 7433. Para saber um pouco mais sobre a Bluenose Sidecar Tours, visite a fan page da empresa (https://www.facebook.com/pages/Bluenose-Sidecar-Tours-Inc/146897575380523) e o seu site oficial (http://www.bluenosesidecartours.com/).
- Parceiros e patrocinadores
Agradecimentos especiais:
Agradecemos a Vicki Gesner e Kevin por nos mostrar Halifax de uma forma completamente diferente e humana; a Ivan Fraser, por doar um pouco de seu tempo e por dividir suas incríveis histórias; o apoio do Destination Halifax e das demais províncias que nos apoiarão em nossas paradas, como Quebéc City, Montréal, Toronto, Winnipeg, Banff, Lake Louise, Jasper, Whistler e Vancouver. =)))
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Air Canada (Apoio)
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Vertebratta (Idealização/Projeto)
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hahaha esse sidecar me lembrou “Indiana Jones e a Última Cruzada”!!! rs
Verdade! Não sei se teria coragem de fazer isso em motos russas como eles.
Mas Alberto, elas foram surpreendentemente confortáveis e confiáveis hahaha.
Mesmo do auge de meus 144kg, no sidecar, elas mandaram bem na estrada 😀