No finzinho de 2010, quando Erik e eu fizemos uma viagem a São Luiz do Paraitinga, decidimos, no retorno a São Paulo, fazer uma visita ao Sítio do Picapau Amarelo, localizado em Taubaté, no interior do estado. A ideia foi do Erik e não poderia ter sido melhor! A obra O Sítio do Picapau Amarelo, um dos grandes clássicos da literatura infantil, escrita por Monteiro Lobato, povoou o imaginário de várias gerações de crianças, inclusive o meu. Quando menina, aprendi a gostar e a respeitar a literatura através dos livros do autor. Minha mãe, para preencher as nossas férias escolares (as minhas e as de meu irmão), fez nosso cadastro na Biblioteca Monteiro Lobato, em Salvador. Por indicação da bibliotecária, comecei a ler as publicações que compunham a série de livros intitulada de O Sítio do Picapau Amarelo, que contava as aventuras dos habitantes da chácara, agraciados por uma vida pontuada pelo uso irrestrito da imaginação.
Graças ao Monteiro Lobato, que soube valorizar elementos do folclore brasileiro, convidando os leitores a uma viagem por mitos e lendas que atravessam o tempo e o imaginário dos habitantes desta terrinha solar, conheci o saci, o curupira, a mula sem cabeça, a mãe d’água, entre outros tantos personagens. Graças a ele também, conheci um pouco da mitologia greco-romana, através de histórias que envolviam os habitantes do sítio com personagens clássicos, como o semi-deus Hércules, em seus Doze Trabalhos, e o Minotauro e seu labirinto assustador. A primeira vez que li palavras como manjar e ambrosia foi através dos livros de Lobato. A comida dos deuses do Olimpo aos poucos foram tomando lugar no meu dia a dia, na descoberta de que eram doces caseiros e que estavam ali, à minha mão. Através do livro deste autor que se fez atemporal, conheci elementos que faziam parte das minhas vivências culturais e aprendi um pouco também de outras culturas, já despertando em mim a inquietação de querer viajar o mundo, assim como os personagens do sítio faziam através do pó de Pirlipimpim.
- A Casa do Sítio do Picapau Amarelo
José Bento Renato Monteiro Lobato, ou simplesmente Monteiro Lobato, nasceu em Taubaté (São Paulo) em 1882, o que justifica o fato da cidade possuir, em vários dos seus pontos, referências diretas ao autor e à sua obra, como ruas que levam os nomes de personagens do sítio a esculturas espalhadas pelo município, que seguem o mesmo tema. O Sítio do Picapau Amarelo, que acabou por se tornar um dos principais pontos turísticos de Taubaté, realmente foi palco da infância do autor. A propriedade, que antes se chamava Chácara do Visconde, por pertencer ao Visconde de Tremembé – o avô de Monteiro Lobato -, serviu de inspiração ao escritor para compor suas histórias.
A infância vivenciada no casarão, entre árvores frutíferas e muito terreno onde correr e soltar a imaginação, acabou sendo incorporada à sua produção literária. Monteiro Lobato, aparentemente, transformou os elementos que povoavam seu imaginário e seu cotidiano na matéria-prima de suas histórias. Os animais que deveriam circular pelo sítio, como porcos, por exemplo, podem ter sido a inspiração para a criação de personagens como o Marquês de Rabicó. Os brinquedos de infância, feitos com elementos extraídos da terra, podem ter inspirado também a construção de personagens como o Visconde de Sabugosa, que era, no final das contas, um boneco feito de sabugo de milho.
Para aqueles que tiveram a oportunidade de ter acesso a estes livros incríveis, visitar o sítio é uma experiência emocionante. Entrar na casa, olhar o terreno através dos janelões em estilo colonial, sentir as tábuas antigas rangerem sob os pés, é algo que só quem quis muito passar as férias naquele sítio provavelmente entenderá! Quantas vezes quis estar na cozinha da tia Anastácia e provar seus bolinhos de chuva ou quantas vezes quis ouvir as histórias de Dona Benta, sentada ao lado de sua cadeira de balanço? Quantas vezes tive medo de dormir por causa da Cuca ou das estrupulias do Saci ou quis sentar ao lado do Tio Barnabé para ouvir suas histórias de mula sem cabeça, enquanto ele pitava seu cachimbo? Visitar o sítio foi reviver todas essas passagens, que, apesar do tempo, continuam vivas e presentes, mostrando que, naquela época, eu conseguia realmente viajar através das páginas de um livro, coisa que hoje é cada vez mais raro!
Outro ponto que me emocionou também foi poder ver de perto várias edições da obra O Sítio do Picapau Amarelo. Erik, inclusive, fotografou a edição em que li as aventuras destes personagens inesquecíveis pela primeira vez. No meu tempo de menina, ter a coleção inteira envolvia ter muito dinheiro para gastar (não era definitivamente minha realidade). Pelo apego e carinho que desenvolvi por estes livros, acabei lendo toda a série duas vezes, o que me revelou detalhes que deixei passar na primeira leitura e o que me fez ter, de certa forma, estes livros em minhas mãos por um tempo. Rever estas edições foi reviver bons momentos de tempos despreocupados, em que me estirava na cama com meu travesseiro e os livros e assim passava todas as minhas férias. Tempos despreocupados que agora vivem no campo das lembranças. 🙂
- Encontro com os personagens do Sítio do Picapau Amarelo
Depois de revirar os cantos do casarão, lá fui eu dar um abraço em todos aqueles personagens que me habitam. Apesar de para muitos parecer coisa de jacu, eu digo que para mim valeu a experiência. Por mais que as esculturas estejam gastas pela ação do tempo, posto que estas ficam expostas ao longo do sítio, a mercê de sol e chuva, encontrar estes personagens é reencontrar as linhas que me conectam à infância. E ser criança, no final das contas, é viver a vida de forma espontânea. Crescer, infelizmente, envolve adequar-se a regras, vestir uma seriedade e sisudez dispensáveis, lidar com mesquinhez, com egos, com as inúmeras bobagens cotidianas. Mas aquele… aquele momento era minha licença poética e não deixei de vivê-lo.
A visita ao Sítio do Picapau Amarelo é indicada para todas as idades (para os pequenos e para os pais e avós dos pequenos) e é gratuita. Na chácara funcionam o “Museu Histórico e Pedagógico, com biblioteca e toda a literatura infantil de Monteiro Lobato, exposição iconográfica da vida e obra, salas de exposições de artistas plásticos populares e regionais, além da agradável área verde com mangueiras e jaqueiras centenárias, entre outras árvores. Os personagens de Monteiro Lobato animam crianças e adultos com suas representações teatrais”. (Fonte: Guia Taubaté)
Deixo então esta dica turística para quem estiver de passagem por Taubaté. Quem não pôde ler a série de livros que compõem a obra O Sítio do Picapau Amarelo, com certeza, em algum momento da vida, deve ter assistido às adaptações feitas da coleção para a televisão, seja a antiga, veiculada na TV Educativa, seja a mais recente, veiculada pela Globo. O certo é que todo mundo (ou pelo menos quase todo mundo que vive no Brasil), uma vez pelo menos, ouviu falar da boneca de pano Emília, serelepe e respondona, das histórias de Dona Benta e de seus cabelos brancos ou dos bolinhos de chuva da tia Anastácia. É certo também que já ouviram falar do caipira Jeca Tatu, do Tio Barnabé e de sua fala mansa, de Pedrinho e suas aventuras, dos redemoinhos de vento provocados pelo Saci ou das maldades da Cuca. O certo é que o sítio está lá, de portas abertas, com suas mangas e jacas a caírem do pé, esperando ser visitado por crianças e adultos que se permitem sonhar sempre e nunca abrir mão do uso da imaginação.
- Mais informações:
– Endereço: Av. Campinas, s/n – Chácara do Visconde.
– Horário de Funcionamento: Terça a domingo das 9h às 17h.
– Tel de contato: (12) 3625-5062.
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Gracinha ver o Sitio ao vivo e a cores!
É sim, Mari. 🙂 É um passeio para ir de coração aberto, sem esperar grandes firulas, mas entender toda a carga de significados q o local engloba para os q admiram a obra infantil do Monteiro Lobato. 🙂
Beijão,
Jana.
Olá, Janaína!!! Amei ver as fotos e seus comentários sobre o sitio, meu filho de 8 ano, tem loucura para conhecer o lugar, só que ele acha que é como a TV, vc acha que ele irá curtir o passeio(rs), pq eu vou com certeza!!! E me fala, para almoçar temos que sair do sitio? Ou tem algum lugar lá dentro ou próximo ao sitio para almoçarmos ou fazer um lanche, ou melhor, devemos levar nosso lancha e fazer um piquenique lá?
Obrigada peça atençaõ!!!
Oi, Célia! Td bem?
Célia, o lugar é bem bacana se levarmos em conta o significado que ele tem. Foi ali que Monteiro Lobato cresceu e foi fonte de inspiração de muitos dos seus livros. Tente explicar ao filhote que o sítio que ele verá não é o mesmo da televisão, mas que vale a visita.
É um local simples e não há restaurante no local, mas vale pesquisar nas cercanias se há algum lugar para fazer um lanche. 😀
Aproveite a experiência!
Beijão,
Jana.
Ahhh que Saudades….me emocionei lendo este post, passei tardes maravilhosas brincando no sitio, e não foi só na imaginação,graças a parentes que moram em Taubaté,também pude ter um pouco da minha infância no sitio…ee digo que doce recordação…e ainda conto um segredinho pra vcs,meu primeiro beijo foi como o Visconde (real) rsrsrs ,no sitio tinha um teatro infantil,cjo os personagens tomavam “vida” e era como estar no sitio da TV …
Quanto sentimeto bom revivi lendo este post,infelizmente as pessoas não dão valor devido ao sitio…
Obrigado Jeguiando!
Beijos
Oi, Letícia. Tudo bem?
Letícia,fiquei muito feliz com o seu comentário. Entendo perfeitamente a sua sensação de saudade. 🙂 Ao longo da vida, elegemos nossos lugares preferidos, os preenchemos de significados e muitos n entendem pq aquele local, simples, sem grandes badalações e firulas, têm e causam tanto impacto em nós. 🙂 O afeto,as lembranças, isso sim determina o valor que um destino tem para que os visita. 🙂
Beijão, minha querida.
Volte sempre!
Jana.
Nossa, que post massa Jana!
Adorei conhecer o Sítio pelas fotos de vcs. Parabéns pela matéria
fiquei com vontade de conhecer o lugar. Abraço
Que bom, Átila! Erik e eu ficamos felizes em ver q nosso trabalho tem inspirado as pessoas a quererem conhecer outros cantinhos. 🙂
Beijão,
Jana.
Amie as fotos e os comentarios ja estou programando uma vsita ao sitio do Picapau com meu marido e minha filhinha
beijos
Regina
ele e muito bom
eu gosto tanto
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Estou profundamente emocionada com esse post! E já estabeleci como meta que preciso visitar este lugar, gente! Fiquei com nó na garganta só de pensar em passear pelo sítio onde tantas vezes me imaginei…
Tereza, o sítio vale uma visita principalmente pela sua história e principalmente pelo seu valor sentimental! Quanta gente não quis visitar aquele sítio um dia na vida? Tirar as jabuticabas do pé, viajar com a Emília e a Narizinho, comer os bolinhos de chuva da Tia Anastácia e ouvir as histórias no colo da Dona Benta? É uma experiência que toca quem realmente mergulhou na obra do autor e reconhece sua importância! 🙂
Um grande beijo,
Jana.
Janaína, obrigada pelo post.
Foi uma inspiração e hoje estou indo para Taubaté conhecer o Sítio. É uma surpresa para a minha filha, mas acho que a que está mais feliz é a minha criança interior…srsrsrs
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