Floresta do Navio – Pernambuco


Hoje, caros jeguiantes, darei início a série de posts chamada “Cidades que você nunca ouviu falar, ao menos que você tenha nascido nela”. Brincadeiras à parte, Floresta do Navio, para quem não conhece, é uma cidade do interior de Pernambuco. O Jeguiando, quando foi idealizado, tinha como foco o relato de viagens, seja qual for a viagem! Obviamente, Floresta do Navio não consta em roteiros turísticos, até porque não se trata de uma cidade com este foco, mas se passamos por lá, sentados em nosso jegue alado (errrrr… licença poética, ok?), vale a pena abrir este espaço e falar um pouquinho da cidadezinha.

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Pé de tamarindo. Imagem: Janaína Calaça.

Estive em Floresta do Navio três vezes em minha vida. Duas vezes quando era menina ainda e retornei à cidade mais de 20 anos depois. Minha relação com a cidade é simples: meu pai nasceu lá e este ano fizemos uma viagem para que ele pudesse rever a família. A viagem, obviamente, mexeu com todos. Pegamos estrada, meu pai, minha mãe, meu irmão, Fábio e eu, naquele estilo bem viagem farofa e seguimos. Levando-se em consideração que em minha última ida à Floresta, viajamos em um Tanger (que é tipo um Bugre), com mudas de pé de mamão no pé (o carro não tinha porta-malas), travesseiros na cara, isopor com água e malas, hoje estamos até chiques, porque o carro pelo menos tinha ar-condicionado, em vez daquele ar violento que vai entrando em carro de capota! Nesta viagem o carro quebrou umas cinco vezes na estrada e meu irmão, com um ano de idade na época, tomou banho em um puteiro… Sim, viagem peculiar a nossa!

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Igreja do Rosário. Imagem: Fábio Brito.

Mas… Continuando a falar da experiência da viagem em si, foi estranho chegar em Floresta e ver em cada prédio público o sobrenome que eu carrego ou sobrenomes ligados à nossa família também. Entre Calaça, Sá, Novaes, caminhei pelo chão daquela cidade, tentando imaginar como tudo aquilo era no tempo que meu pai foi menino. Painho (sim, eu chamo meu pai de painho) vivia em uma fazenda relativamente próxima à cidade e imagino que o ponto alto de sua existência era o dia que ele dava umas voltas na cidade. Achei bonito ver os olhos dele brilhando de orgulho da cidade. “Tá bonitinha né, filha?”. E eu dizia… “É pai, tá bonitinha sim”… Para quem cresceu em Salvador e hoje mora em São Paulo, passar poucos dias em uma cidade do interior de Pernambuco pode parecer um desafio, mas há uma beleza presente na simplicidade daquela vida desacelerada que toca… Toca sim.

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Catedral do Bom Jesus dos Aflitos. Imagem: Fábio Brito.

Foram poucos dias os que passei em Floresta, mas o que pude perceber, além do nome da minha família espalhado em alguns cantos, é que há um orgulho grande dos habitantes em relação à cidade. Não sei se isso me assusta ou me encanta, mas há carinho na fala dos habitantes daquela cidade. Agora entendo a razão pela qual meu pai se emociona quando fala de Floresta, do Rio Pajeú, do Riacho do Navio, do Rio São Francisco e de tudo que a envolve. Há viagens de todos os tipos… Trabalho, turismo… Esta foi de retorno às minhas raízes, aquelas mais profundas, escondidas em camadas que antecedem minha origem. Enfim, valeu a pena.

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Catedral do Bom Jesus dos Aflitos.Imagem: Janaína Calaça.

Falando um pouco sobre a origem de Floresta, a cidade “teve início no século XVIII nas fazendas Curralinho e Paus Pretos, mas foi na Fazenda Grande, à margem direita do rio Pajeú, que teve início a povoação de Floresta. Na segunda metade do século XVIII, a fazenda servia de curral temporário para o gado que vinha da Bahia abastecer os engenhos de açúcar pernambucanos. (…) A proximidade com os Rios Pajeú, São Francisco e o Riacho do Navio aliada ao espírito de cristandade atraíram o povo para o local. Em poucos anos, o povoado de Fazenda Grande foi elevado à categoria de Vila em 31 de março de 1846, por meio de projeto que se tornou Lei Provincial n° 153, apresentado pelo representante de Flores, município também banhado pelo Rio Pajeú, do qual foi desmembrado”. Quer ler um pouco mais sobre sua história, acesse o Portal Floresta Net.

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Praça Major João Novaes. Imagem: Janaína Calaça.

As atrações turísticas de Floresta são basicamente seus casarões coloniais, que datam do século XIX, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, o Riacho do Navio, a Serra Negra e a Trilha Lagoa do Pedrosa.

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Casarão colonial. Imagem: Fábio Brito.

Como se trata de uma cidade relativamente pequena, as opções de bares não são grandes, mas há um barzinho por lá, o Bar do Betinho, que é o ponto de encontro dos habitantes de Floresta e a opção para os turistas. O bar existe há mais de 20 anos e é onde você poderá tomar uma cerveja ou comer alguma coisa de bode! Sim, o que não falta na mesa de algumas cidades do sertão Pernambucano é o bode. Cuzcuz e carne de bode frita é prato obrigatório! Um queijinho coalho, requeijão do bom e doce de leite também fazem parte do cotidiano da cidade.

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Jegueton em Floresta do Navio. Imagem: Janaína Calaça.

Floresta também é conhecida como a cidade dos tamarindos. Não é à toa que a imagem que abre o post é de um pé de tamarindo. Um dos muitos que podem ser encontrados ao longo da Praça João Novaes.

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Os Calaças de Floresta. Primaiada querida. Imagem: Fábio Brito.

Bom, meus caros jeguiantes, espero que tenham gostado do post. Apesar de Floresta não ser uma cidade turística, ainda assim, pela sua proximidade com o Rio São Francisco, pode ser que um dia você passe por lá, tome uma água de coco no bar do Betinho, coma uma fritada de bode e ouça dos habitantes alguma história curiosa das famílias que ali viveram e das que ainda vivem por lá. Boa viagem!

E para quem gosta de viajar de uma forma diferente, além de imagens, trago outras linhas. 😉

Floresta do Navio

(Janaína Calaça)

Ali estão minhas raízes,
capilares levando vida às minhas lembranças turvas.
Cheguei com fome de história,
com sede de memórias
e encontro o chão seco e rachado,
fragmentado-profundo-revelado.
Tudo era solidão viva.

*

Por trás das árvores retorcidas,
do verde pálido pontuado do dourado da seca,
debaixo de um céu profundamente azul,
a velha casa ainda vive,
com seus olhos tristes de janelas antigas,
chão de cimento batido
e velhos potes de água.

*

Velha Floresta,
do Xique-Xique, Mandacaru e do Facheiro,
do Quipá, Algarobas e Macambiras de boi e anzol,
dos riachos salgados e intermitentes,
dos Caborés aninhados nos cupinzeiros.
Velha Floresta,
mãe de seio murcho e de ventre desértico.

*

Sentei ali, na cadeira de pernas bambas,
a ver o vento varrer tudo para longe,
da poeira às lembranças,
das folhas às nossas vozes.
O gado pouco e murcho,
a sonhar com um mar de água doce,
caminha lentamente fazendo o chocalho cantar,
e eu, figura destoante,
vertendo rios por dentro,
acaricio o cão dócil,
que de tanto nadar na terra seca,
já ganhou a cor de sua poeira.

*

Vejo a silhueta dos meus ao longe,
enquanto caminho pela terra,
tentando me enraizar novamente,
desviando-me dos espinhos reais e dos imaginários.
Eles riem.
Muito tempo sem sentir a proximidade do sangue.
O velho tio solve seu café,
meu velho pai revive o tempo das calças curtas,
meu irmão adormece na rede vermelha.

*

E eu a pensar no momento que todos se vão,
que as janelas e portas são serradas novamente,
deixando a velha casa para trás,
que segue com sua condição de guardiã da memória de todos,
como a mãe que guarda o som do choro de seus filhos.
O que acontece quando todos se vão,
a poeira sobe
e as árvores retorcidas ficam para trás?

*

É isso que trago em mim,
a Floresta do Navio acenando verde e dourada,
contando-me velhas histórias,
cravejadas no chão e na velha casa.
Ôoooo… êeee…
Sigo aboiando as memórias dos meus,
volto pra casa com os olhos rasos,
o São Francisco todo correndo em mim.

Fontes de pesquisa:

Portal Floresta Net.

Wikipedia.

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30 Comentários

  1. Lucia Malla disse:

    Adorei!

    Essa série promete… estarei atenta. 🙂

  2. rubelvam lira disse:

    floresta talvés seja umas das cidades que tem mais ponto turistico do estado de pernambuco. Faltou uma coisa muito importyante que eu acho que os habitantes da nossa terra não sabem, que temos uma serra do pico que é muito alta e se tem uma visão muito boa das coisas belas da natureza e mesmo o lugar tem historia, Nazaré é visitada por muitas pessoas que querem saber sua historia em relação ao combate contra Lampião, coisa que ninguem dá valor mais Serra Talhada está aí tirando proveito e recebendo muitas pessaos de vários lugaras, e nós que fazemos escondemos a nossa historia. A historia do tiroteio da favela, do enforcado, das baixas e até mesmo aqui na vila que foi duas vezes cercada pelo cangaceiro Lampião. Sei que é violência mais outras cidades estão tirando proveito e nós porque não.

  3. tatiane disse:

    essa e a minha cidade do coraçao……….

  4. Selma Regina disse:

    Lindo saber mais um pouco desta cidade. Meu pai nasceu nesta cidade e todo meu respeito a todas as pessoas que fazem esta cidade e pessoas que contam historias. Parabens

    • adenilson jose novaes disse:

      meu pai nasceu nesta cidade e hoje se ele estivesse vivo estaria completendo aniversario, pois ele nasceu no ano de 1922, eu gostaria de conhecer os meus parentesco da minha familia novaes

      • orlando dias novaes disse:

        meu nome é Orlando Dias Novaes. Somos em 11 irmãos. Somente Osvaldo Dias Novaes nasceu em Pernambuco; todos os outros nasceram em São Paulo. Meus pais Bartolomeu gomes Novaes e Odesia Hilda da Siva Novaes.Minha vó Josefa Gomes Novaes.

      • orlando dias novaes disse:

        meu nome é Orlando Dias Novaes. Somos em 12 irmãos,sendo 3 falecidops(restam 3 mulheres e 6 homens. Somente Osvaldo Dias Novaes nasceu em Pernambuco; todos os outros nasceram em São Paulo. Meus pais Bartolomeu gomes Novaes e Odesia Hilda da Siva Novaes.Minha vó Josefa Gomes Novaes.Minha mãe faleceu em 2009 e meu pai agora em janeiro. Tenho familiares em Recife, Moreno, Serra Talhada mas nunca tive a oportunidade de conhecer Pernambuco.Alguns documentos do meu pai está escrito Novaes com i…qual o correto ?Moro em São Vicente/São Paulo. Abraços…

  5. […] a casa de meus avós paternos, que hoje mora sozinha no meio do sertão pernambucano, próximo à Floresta do Navio. A porta, o fogão à lenha, o pote de água, através de uma peça tão pequena, feita por mãos […]

  6. Gilmar Nunes disse:

    Gostei, sou de Floresta e acho a cidade bem parada mesmo, mas acho que deixou de falar de muitas coisas boas que existem pela cidade apesar de ela aparentar monotonia.
    Parabéns pelas fotos, otimas.

  7. bom dia boa tarde boa noite. eu gostaria de manter contato com o pessoal de floresta do navio

  8. Pedro Ferraz(potinho) disse:

    Nasci e me criei por ai,sinto muitas saudades deste povo hospitaleiro,ai tenho muitos amigos.

  9. nara disse:

    nandinha fofinha

  10. Eu também nasci lá mas só conheço de passagem para Recife. Adorei o comentário e agora planrjo uma passadinha por lá. Ele construiu uma barragem naquela redondeza.

  11. gleisom jose disse:

    nasci nesta maravilhosa cidade onde os pontos turisticos sao muitos,me lembro das pedras atras da rosa de joao tiburtino e outro lugares como a serra do arabua os bailes que gloide organizava e muito mais. mas fico triste por nao ver o nome da Sra.Mªapolinaria ou simplesmente mara pulunaria como era mas cconhecida . uma pessoa que nasceu,viveu,e morreu solidaria com a familhia novaes

  12. lucas disse:

    eu moro aqui em floresta estudo no diocesano e um dos melhores lugares é o ABB É UMA cidade legal

  13. […] e fugir da sede e da fome, destino selado com os longos períodos de seca que assolam a região de Floresta do Navio, terra onde ele nasceu. Velha casa, lembranças antigas. Floresta do Navio, Pernambuco. Imagem: […]

  14. Laíse Novaes disse:

    Meu nome é Laíse Gomes Leal Nunes Novaes, nasci e me criei em Floresta, hoje, resido em Recife.
    É uma satisfação enorme mergulhar na internet e encontrar pessoas que ilustram nossa terra, que transmitem os pontos positivos…
    Floresta tem muito a mostrar, muito a levar os turistas ao encanto…
    Seja no simples prazer de se deleitar em baixo dos Tamarindos sentindo a briza batendo… até mesmo curtir nossas boas e agitadas (sim, Floresta tbm tem momentos de agitação, e agitação saudavel) festas…
    Quanta saudade me deu agora de estar na calçada de casa, vendo as crianças correndo na quadra, curtindo o clima peculiar…
    Saudade dos momentos de festa, onde Floresta se alegra e movimenta todo o povo a festejar.
    Mas ainda tem mais, muito mais a ser escrito e mostrado sobre nossa querida Floresta.
    Agora ela conta tbm de outros bares legais, alem do eterno Betinho… a praça em frente a Catedral conta com alguns barzinhos que fazem o movimento das noites Florestanas…
    Temos muito a disseminar sobre Floresta.
    E contamos com pessoas assim como vc, que trazem o nosso melhor!
    Atenciosamente

  15. ROBÉLIO DJALMA DE SÁ disse:

    MARAVILHOSO SABER QUE EXISTE UMA DIVULGAÇÃO DESSE QUILATE.TENHO NASCENÇA NESSE LUGAR, MORO EM OUTRO MAIS SEMPRE ESTOU EM FLORESTA,E AO SAIR DESTA TERRA ABENÇOADA FICO EM UMA TRISTEZA MAIS A LEMBRAÇA ME CONFORTA E ME SINTO FELIZ EM DIZER QUE ESSA É A MINHA TERRA E O MEU LUGAR. UM FORTE ABRAÇO A TODOS…

    • GRAÇA LEAL disse:

      Que bom… a nossa cidade sendo divulgada, com as melhores fotos, apagando as tristezas que passaram por aí e vamos viver só as alegrias dessa cidade maravilhosa! Tenho muitas saudades…bjuss

      • Graça, meu pai é nascido em Floresta do Navio e saiu da cidade muito pequeno para tentar a vida na Bahia. No entanto, o sentimento de saudade é sempre presente nele.

        Em sua homenagem, publiquei uma crônica sobre minha primeira viagem à Floresta em meu segundo livro. =)

        Um grande beijo,

        Jana.

  16. Ma. A. Novaes Sá disse:

    Sou filha de Floresta. Passei algum tempo fora a trabalho, mas tive oportunidade de voltar e voltei. Hoje já estou aposentada mas continuo aqui porque acho que é o melhor lugar. Quando estudante, tinha uma colega Luzia Calaça, deve ser parenta. Ela casou e foi morar em Recife, perdi totalmente o contato.
    Janaína, você é uma escritora, seria interessante se pudesse obter os seus livros, pois pela maneira como escreve tenho certeza seria uma agradável leitura.
    Um abraço e desejo-lhe sucesso!

  17. essa e´a cidade onde eu morro eu tenhu olgunho

  18. zelia disse:

    Ainda vou conhecer Floresta do Navio Terra de meus Pais. Que deixaram este lugar ainda jovens mas ficou a lembrança e saudades.

  19. Britto disse:

    Soube da existência de Floresta do Navio ao ler o início do livro de memórias de Paulo Cavalcanti, que morou pequeno nessa cidade (o pai era um funcionário de rendas de Pernambuco e perambulava pelo estado). Achei o nome curioso, procurei no mapa do país e não achei. Agora sim, nesse blog interessante, tive informações… Faltou dizer por que o “do Navio” foi retirado do nome. Mas não invalida as informações verdadeira elencadas no blog, ao qual agradeço e desejo sucesso.

  20. Marcos T. Alencar de Carvalho disse:

    Esta é uma postagem antiga, de 2009, mas achei na internet e estou indo para Floresta conhecer meu passado. Descobri um português dos anos 1700 que foi de Penafiel, Portugal para Floresta e se estabeleceu na fazenda Panela d’água. Seu nome era Manuel Lopes Diniz e está na sétima geração acima da minha. Depois mais abaixo aparece Pires Ribeiro, Carvalho, Nogueira e assim vai. Acho que no sertão todo mundo é parente rs. Em dezembro deste ano de 2023 irei conhecer mais um pouco das minhas origens.


 

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